A estudante Dayane Steffane da Silva, de 17 anos, aluna do 3.º ano do Ensino Médio da Escola Estadual Engenheiro Francisco Bicalho, no Barreiro, em Belo Horizonte, afirma que com poucas ações melhoramos nossa qualidade de vida. Suas palavras resumem as mudanças realizadas pelo "Projeto Córrego", que há três anos tem gerado o comprometimento entre a escola e comunidade para a recuperação do Córrego do Clemente - ou do Barreiro como é conhecido - que passa aos fundos da instituição. A idéia surgiu a partir de um curso de biomonitoramento feito pelo professor de biologia Emanuel Vítor Silva Júnior, por meio do Projeto Manuelzão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que estimula a Educação Ambiental em todas as cidades da Bacia do Onça e do Rio das Velhas.
Todas as disciplinas passaram a abordar o estudo e a melhoria qualitativa do curso da água, que nasce no Parque das Águas e sofre com a eliminação da mata ciliar e o depósito de esgoto e lixo em seu leito. Foram realizadas palestras e reuniões com técnicos da prefeitura e da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa). De acordo com a diretora Lucy Mary Lourenço, o trabalho desenvolvido pela Escola Estadual Francisco Bicalho possibilitou a descoberta de que o córrego do Barreiro pertencia à Bacia do Onça e do Rio das Velhas, o que possibilitou sua inclusão no Projeto Manuelzão.
Sem vandalismo
As descobertas e transformações alteraram até mesmo a relação dos estudantes com o prédio escolar, que antes registrava um histórico de atos de vandalismo, pichações e roubos. Segundo a diretora Lucy Mary, "com a revitalização, os alunos atinaram para a possibilidade de mudança com base em propostas básicas, como a conservação de nosso espaço".
A Escola Estadual Francisco Bicalho deixou de despejar esgoto no córrego e não tem mais problemas com mosquitos e infestações de ratos. A estrutura não foi a única beneficiada com a iniciativa: "toda a escola aderiu à idéia, promovemos a conscientização da comunidade, entrevistamos famílias que haviam sido desabrigadas por enchentes, elaboramos e distribuímos cartilhas de porta em porta", explica a diretora.
A escola é integrante do Projeto Escola Viva, Comunidade Ativa, da Secretaria de Estado de Educação (SEE), que é voltado para o fortalecimento de escolas em áreas urbanas, com população de vulnerabilidade social e sujeitas a índices expressivos de violência. Procura proporcionar a tranqüilidade e as condições básicas de educabilidade no ambiente escolar para que o processo de ensino e de aprendizagem aconteça. O desafio deste projeto consiste em repensar a escola, tornando-a mais aberta à participação da comunidade e mais inclusiva.
Ao se apropriarem do projeto, os 1.500 estudantes, a maioria vindos dos bairros Vila Cemig e Conjunto Esperança, geraram a mobilização comunitária pela preservação do córrego. Alunos e comunidade votaram em massa pela realização de obras estruturais e de preservação no Orçamento Participativo do biênio 2006/2007.
Reconhecimento
A visibilidade do projeto veio, principalmente, com a participação da comunidade que mora às margens do córrego, que começou a participar das atividades da escola. Segundo o professor Emanuel, o projeto desenvolveu o espírito de liderança entre os estudantes e viabilizou a integração de toda a escola com a população para alcançar antigas reivindicações.
"Sem a escola não teríamos atraído a atenção e nem conseguiríamos cobrar obras prioritárias para o córrego, como a montagem de rede interceptora de esgoto e intervenções para a contenção das encostas", ressalta a líder do Conjunto Mutirão, Maria Aurora Soares.
A iniciativa da Francisco Bicalho está inscrita no concurso Premiando a Educação deste ano, do Projeto Manuelzão, que apresentará novas práticas ambientais desenvolvidas nas cidades da Bacia do Rio das Velhas. "Vemos a Escola Francisco Bicalho como um agente mobilizador, voltado para a mudança de atitude ambiental e que despertou a atenção da comunidade para o consumo responsável, a deposição correta do lixo e a necessidade de cuidados com as águas", lembra Lísia Godinho, coordenadora do Projeto Manuelzão Vai à Escola.
Registro de preocupações e esperanças
Este ano, os estudantes se reuniram para o lançamento de um CD que documenta as experiências, com poesia, rap, pagode, redação e contos, entremeados por locuções do professor Emanuel Vítor. Trezentas cópias foram produzidas com o apoio da SEE. O grupo de pagode "Doce Mania", integrado por alunos, se formou especialmente para o registro: "usamos elementos do universo artístico e cultural deles para formarmos a referência, apenas fiz a mediação do processo e em determinados momentos foram eles que me ensinaram", aponta o educador Emanuel.
Já a aluna Dayane indica outros ganhos: "antes não havia interesse pelo córrego, com o trabalho notamos as diferenças entre a saúde das águas da nascente e a partir do momento em que recebem o impacto do lixo e do esgoto". O córrego do Barreiro certamente passou a contar com mais aliados para sua conservação.
Título: Alunos de escola estadual ajudam a recuperar córregoAutor: Secretaria de Estado de Governo
Data: 19/12/2008
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